Modismo é algo que
vem com uma força impressionante e que some sem deixar muitas saudades.
Entende-se como modismo todo fenômeno que atinge de forma simultânea um
determinado grupo de pessoas. As pessoas consideradas antenadas, também
conhecidas com “IT”, são aquelas que percebem tendências e se antecipam ao
fenômeno popular. Geralmente estas pessoas estão um ou dois passos à frente dos
modismos. Quando determinado modismo atinge em cheio aos simples mortais, essa
turma descolada já está de cabeça em outro modismo e por aí avidinha segue.
No mundinho gospel também temos nossos modismos. É bem verdade que
costumamos ser um tanto mais atrasados nas novidades. Já tivemos o modismo da
música pentecostal com suas subidas de tom, muitas cordas, uma overdose sonora
frenética. Tivemos a “moda” da água, onde boa parte das músicas no meio
referia-se a águas, chuvas e coisas do tipo. Houve ainda o modismo Hillsong onde
10 entre 10 ministérios de louvor e artistas, ops, levitas, seguiam um estilo
pop rock com adoração control C control V da banda australiana (que na verdade,
tem como referência a turma do Cold Play). A lista de modismo segue com a época
dos mantras gospel com músicas de 10, 12 … 16 minutos onde o cantor repetia 895
vezes uma única frase até que o público alcançasse o nirvana em meio a um transe
psico-evange-délico. Houve o tempo das ministrações, com os líderes de louvor
pregando no meio das canções com suas palavras de ordem bradadas com toda
emoção a la Toque no Altar.
Mais recentemente o
Brasil foi invadido por um novo estilo sertanejo. Depois do forró
universitário, eis que surge o sertanejo universitário. E o que vem a ser esse
novo estilo que parece ter tomado conta das rádios e das paradas de sucesso? Em
termos musicais nada mais é do que uma junção de pop com o sertanejo e algumas
guitarras mais à frente, um refrão repetido 763 vezes, geralmente com alguma
expressão sem explicação … tchu, tchá, oinc, toc, tic, yê yê. Em termos
artísticos, este estilo é predominantemente masculino, defendido por jovens
rapazes bombados, tatuados, com calças justíssimas, rebolativos, com um ego
infladíssimo, cabelos arrepiados lambuzados de gel e uma incontrolável vontade
de “passar o rodo geral”. Haja disposição!
Nos últimos dois anos
recebi muitos projetos neste estilo, o sertanejo universitário gospel. Confesso
que muitas das vezes nãoconsegui suportar mais do que 2 ou 3 faixas na audição.
Tudo me soa muito caricato, estereotipado, fake mesmo! E como todo modismo, a
possibilidade de permanência desse estilo por mais 2 ou 3 temporadas é bastante
remota. O momento agora já não é mais do universitário, mas sim do arrocha,
ritmo nordestino que mistura forró, brega, calypso … ou seja, um artista não
pode ficar seguindo tendências e modismos, ele precisa ter sua identidade
musical e segui-la. Não quer dizer que não possa sofrer influência dos novos
estilos, não é isso! Mas entre ‘sofrer influência’ e correr como um desvairado
a cada novo modismo musical, há uma enorme diferença.
Uma das maiores
diferenciações da música cristã, muito além da forma, é o seu conteúdo. Uma
música cristã não deve somente entreter, mas principalmente deve comunicar. E
para isso é fundamental que a qualidade da palavra seja observada a qualquer
custo! Nestes modismos recentes, o principal não é a mensagem, mas a plástica.
Há muitos sucessos em que o conceito da mensagem sequer é percebido, pois o que
fica de verdade é só o refrão, muitas das vezes com expressões onomatopeicas de
sentido algum.
Então, para resumir,
a música cristã deve manter-se atenta às tendências, mas longe dos modismos. Este
é um detalhe que os artistas, produtores e principalmente compositores devem
estar sempre alertas! A música cristã, independente do estilo, deve sempre
trazer uma mensagem de fé, esperança, amor, amparada nos conceitos bíblicos.
Muito cuidado para, no afã de manter-se na moda, abrir mão deste que é o nosso
maior diferencial: a mensagem.
Mauricio Soares, publicitário,
jornalista, consultor de marketing, pai, esposo, alguém que por mais de 20 anos
vem trabalhando em prol de um mercado cristão mais profissional, racional,
lógico, organizado, ético e principalmente cristão.